Mari
Kanegae
Acredita-se
que no Brasil, a arte do Origami foi introduzida de duas maneiras: uma
através de nosso país vizinho, a Argentina que possui muita
influência da cultura espanhola e outra, através dos imigrantes
japoneses que aqui vieram, a partir de 1908.
Na Argentina, uma das heranças culturais trazidas pelos espanhóis foi a tradição de dobrar papel, que na época foi influenciada pelos artigos escritos pelo filósofo espanhol Miguel Unamuno, que era reitor da Universidade de Salamanca. Mais tarde dois europeus emigraram para a Argentina: Dr. Vicente Solórzano Sagredo e Giordano Lareo que publicaram livros no final da década de 30 sobre o assunto. Estes conhecimentos acabaram se espalhando por alguns países da América do Sul. |
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Por
outro lado, quando os japoneses emigraram para o Brasil, trouxeram com
eles vários costumes japoneses que aqui procuraram preservar,
entre eles, o Origami. Um destes imigrantes, chamado Takao Kamikawa,
chegou com a família no ano 9 da era Showa para trabalhar nas
fazendas de café.
Dizem
que ele costumava aos domingos reunir as crianças na Fazenda
Barracão na cidade de Bauru e com pedaços de jornais que
ele ajuntava e cortava em quadrados, entretia a criançada com
figuras como "damashibune, hakama, tsuru, etc". Trouxe consigo
do Japão, um livro chamado "Konreikagami" de Matsuaki
Futaba, da editora Dainipon Reisetsu Gakuin Shupan-bu sobre todo o cerimonial
religioso do casamento, onde aparece o modo de dobrar algumas figuras
como noshi e outros ornamentos feitos de papel ultilizados na cerimônia.
Ele costumava fazer todos estes enfeites e em festas decorava o salão
com vários tsurus, como mostram as fotos tiradas em 1952.
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Este
é apenas um exemplo, mas muitos outros imigrantes passaram o Origami
para os seus filhos e assim por diante. Na década de 60, a Profa.
Yachiyo Koda, começou a ensinar origami oficialmente pela Aliança
Cultural Brasil-Japão e com apoio do Consulado Geral do Japão
em SP, em várias cidades do Brasil. Realizou algumas exposições
e participou de programas de TV. Entre 1982 e 1983, tive o prazer de conhecê-la
e a acompanhei em alguns cursos que ela ministrava para professores. Cheguei
a trabalhar com ela durante alguns anos na Aliança Cultural Brasil-Japão
onde estou até hoje, divulgando a arte do Origami, dando continuidade
ao trabalho iniciado por esta professora, que mais tarde dedicou a sua
vida à musicoterapia.
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Minha
vivência com o Origami também começou na infância
por influência da cultura japonesa e mais tarde no último
ano de faculdade (artes) em 1979, quando iniciei os estágios, descobri
a importância do Origami na educação através
das crianças. Como estas crianças eram de origem humilde
e não tinham condições de comprar material, comecei
a ensinar o origami com papel de embrulho, de propaganda, etc. O resultado
foi supreendente e de um simples passatempo, a experiência com as
crianças me mostrou o valor do Origami como poderoso instrumento
de comunicação, e excelente recurso pedagógico
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Na
década de 80, os alunos de origami eram na maioria pessoas ligadas
à educação ou donas de casa que queriam aprender
origami para ensinar a seus filhos. No início dos anos 90, houve
uma diversidade de público: pessoas das mais variadas profissões
procuravam os cursos, muitos diziam que era para relaxar, para combater
o estresse. Além de professores, havia médicos, psicoterapeutas,
bancários, engenheiros, etc. Hoje recebo convites de empresas e
hospitais para dar workshops na semana de saude. Isto demonstra que o
Origami está sendo reconhecido como uma forma de melhorar a qualidade
de vida do funcionário de uma empresa e como forma de integração.
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Em
1992, foi criado o GEO (Grupo de Estudos de Origami) formado por ex-alunos
do curso de Origami da ACBJ, que inicialmente divulgava o Origami através
de boletins com artigos diversos e mais tarde com exposições.
Uma delas chamada "A História da Imigração Japonesa
no Brasil" foi vista por milhares de pessoas em várias cidades
do Brasil e em 2001, foi exposta na Embaixada Brasileira em Tókyo.
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Em
2002, organizamos uma exposição chamada "A Copa do
Mundo do Origami" pelo Consulado Geral do Japão em SP, onde
o público brasileiro teve a oportunidade conhecer pela segunda
vez trabalhos de artistas de vários países. Uma exposição
que duraria apenas uma semana foi prorrogada por um mês, devido
ao interesse demonstrado pelo público.
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Hoje
há outros grupos de Origami em outras cidades e isto demonstra
o crescente interesse demonstrado pelos brasileiros pelo Origami, que
agora, além de conhecer esta arte através de cursos, exposições
e publicações, tem um aliado importante que é a internet
que aproxima não só brasileiros como também pessoas
de todo o mundo. Acredito que em breve outros grupos deverão surgir
no Brasil, assim como pessoas criativas para enriquecer ainda mais o mundo
do Origami.
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